...algo antigo.
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Dor! Essa palavra quase não tem sentido pra mim, pois penso que sentir dor é para os fracos, para aquele que vivem em plena tragédia e que vão se consumindo aos poucos com algo que poderia ser interpretado bem mais como um impulso.
Mas eu me sinto intolerante, por julgar aqueles que sentem dor e reclamam de senti-la, incapazes de permanecerem ao meu lado.
Mas e agora quando tudo que quero é me esconder no mais escuro dos buracos?
Esconder porque sinto dor, e sinto vergonha de senti-la.
E agora?
Gostaria de tapar minha boca e não sentir tal necessidade de gritar ao mundo minha dor.
Mas já não sei mais doer sem gritar!
Sinto-me a mais frágil de todas as crianças. E logo aquela que acabaram de roubar o último brinquedo. E com ele não foi roubado o amor por ele e a esperança de te-lo de volta.
Mas eu não quero perde-lo. Sem meus brinquedos não sei ser gente, não sei ter força para procurar meus outros amiguinhos quando os mesmos perderem seus brinquedos.
Confesso que constantemente meus brinquedos me quebram, mas isso é necessário. Querem me ver colando e fazendo força para me sentir inteira novamente. Me são tão úteis, que de tanta força, me sinto forte o suficiente para crescer.
Agora, que queimo as faces de vergonha, continuo sentindo dor. Dor psicológica, mas tão forte que penso que se torna física.
Posso bem explicar meus motivos, minhas dores, mas meus brinquedos não querem mais me ouvir, e nem eu quero mais torturá-los assim como faço a mim mesma.
Sei que os faço sofrer com meus pequenos problemas, e nem tenho peito pra dizer o quanto os amo, pois não me sinto no direito de dividir com eles uma dor que é só minha.
Mas por fim, penso que escolhi viver uma vida mais complicada, mais longa e tortuosa. Pois bem, se assim escolhi, devo mesmo aprender essa vida. E se por fim não aprender, devo ao menos vive-la.
-E a dor?
-A dor?
Bom,a dor é para os fracos!
Quem me dera se essa fosse a história daquelas velhas tartarugas...
Lise Arantes